Métodos de avaliação

Quando eu comecei a lecionar, tinha embutido em mim o padrão do método de avaliação da universidade: o professor te dá uma prova que vem “rasgando”, e sua nota é a nota da prova. Acabou, fim de papo. Se faltou a prova, a 2a chamada é ainda pior.

Obviamente eu reproduzi esse modelo à risca no meu 1o bimestre como professor de informática no ensino médio, quando pela primeira vez tive que avaliar alunos. O resultado, também obviamente, foi catastrófico. Foi uma montanha de notas baixas, alunos desesperados, e um professor duvidando da própria capacidade.

Este modelo de avaliação, que me foi “inserido” nos cursos de informática (Tanto o técnico quanto na Graduação) parece ser um modelo que tem a intenção de crucificar cruelmente o aluno, que deve se sentir culpado por não ter estudado o suficiente para fazer uma boa prova. É o típico modelo usado nas cadeiras de ciências exatas. Normalmente é nessas faculdades que os professores que mais reprovam são idolatrados, dados como verdadeiros ases do ensino. Eu imagino que exista uma lógica por trás dessa maluquice, mas não quero refletir profundamente sobre isso agora.

Logo depois desse bimestre, no meu primeiro conselho de classe, os professores discutiram sobre o paradigma da “prova” como método de avaliação, e comecei a perceber que poderia utilizar outras maneiras de avaliação. Comecei então a experimentar. Atualmente ainda uso a típica prova, mas entendo que muitos tipos de prova devem permitir que o aluno consulte o material de referência (Atualmente não consigo ver a lógica de se dar uma prova de programação sem consulta, já que programadores profissionais possuem o material de referência a mão o tempo todo, e o consulta frequentemente), mas também compreendo que a prova sozinha é falha como método de avaliação. Ela pode ser usada como um complemento a outros métodos de avaliação.

Hoje em dia para avaliar o aluno eu uso, além da prova, trabalhos feitos individualmente ou em grupo, produção de trabalhos em sala de aula, participação nas aulas, presença em sala de aula, projetos feitos durante o bimestre, produção de textos explicativos pelos alunos e auto-avaliação. É claro que me dá um trabalho gigantesco, mas sinto que assim a avaliação fica mais justa para o aluno.

Sendo sincero, o que eu gostaria mesmo era de abolir completamente a necessidade de dar notas bimestrais para os meus alunos. Eu sempre sinto que o mais justo seria entregar relatórios mensais aos alunos, dizendo onde eles estão indo bem e onde eles precisam melhorar (E poderia usar todos os recursos acima para apoiar esses relatórios). Ao fim do ano, eu simplesmente decidiria “Está aprovado” ou “Está reprovado” de acordo com o rendimento do aluno durante todo o ano, e os relatórios embasariam a decisão.

Dar um número ao rendimento do aluno para mim sempre é difícil demais. Eu devo avaliar os alunos “uns contra os outros”? Como eu sei exatamente o que é um aluno nota 10, um aluno nota 5 e um aluno nota 0 ? Um aluno pode ser excelente dentro da média de uma turma, mas apenas razoável em outra turma. O outro problema de usar notas numéricas bimestrais, é que os alunos ficam o tempo todo estudando para tirar nota… fica aquela coisa de “Bem, preciso tirar 3 em geografia pra passar, mas 8 em matemática, então vou estudar mais pra matemática mas em Geografia vou só entregar aquele trabalho”. No ano passado eu tive alunos que conseguiram a pontuação necessária pra passar de ano ainda no 3o bimestre, e simplesmente levaram o 4o bimestre na total maciota. O rendimento de vários desses alunos teve uma queda drástica neste último bimestre, e eles não deram a mínima. Esse foco na nota acaba fazendo também com que os alunos estudem apenas “para ter nota”, ou “para fazer a prova”, e não estudem a matéria para aprender de fato. O aluno não deve ir pra escola pra fazer prova, ele deve ir para aprender!

(Em tempo, parece que a faculdade de pedagogia usa os métodos de avaliação típicos das cadeiras de humanas: resenhas e seminários em grupos – 9 em 10 professores do curso de Pedagogia no curso que faço parecem gostar desse modelo. Então o aluno aprende a escrever igual um corno, e a trabalhar com grupos grandes onde 10% faz o trabalho dos outros 90%… eu vou ter uma disciplina que fala apenas de avaliação, fico me perguntando como será a avaliação do professor nessa disciplina… De qualquer forma, ainda me parece métodos mais interessantes do que a maluquice das carreiras exatas,)

2 Respostas para “Métodos de avaliação

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  2. Eu, como um sobrevivente de um curso de exatas (física) vivi muito bem o exemplo de “provas virem rasgando”, e concordo com o que você disse. Realmente a avaliação tem que ser repensada, mas lembre-se que o curso que você leciona é informática, o que facilita um método de avaliação mais dinâmico, agora imagine-se dando aula de física no ensino médio. Claro que isso não é desculpa, mas deve-se lembrar que cada disciplina tem suas particularidades.

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